Será Justin Bieber o Michael Jackson do século XXI?



Ainda é muito cedo para responder essa pergunta, já que estamos apenas na primeira década do século, mas é impossível negar o talento musical deste adolescente que completa 17 anos na próxima semana e que enlouquece fãs em todo o mundo. Apesar do talento e do potencial artístico, vamos combinar: ganhar uma cinebiografia com essa idade foi um pouco exagerado, no mínimo precipitado. Mas isto não significa que o filme Justin Bieber: Never say never será um fracasso, pois com certeza adolescentes e crianças, acompanhadas de seus pais, vão fazer fila nos cinemas a partir desta sexta-feira.


Partindo da infância em Stratford, no Canadá, onde morava com a mãe e os avós, o filme começa com imagens amadoras da infância de Justin Bieber, desde quando ele tocava uma bateria de briquedo com apenas dois anos. A bateria profissional, ele ganhou aos oito anos, com a ajuda de uma rifa organizada pela igreja, e aos doze, tocava violão na rua, na calçada de um teatro. Uma trajetória comum, igual a de várias crianças espalhadas pelo mundo e apaixonadas pela música.


A grande virada aconteceu através da internet, quando um vídeo de uma apresentação num show de calouros se tornou um hit no Youtube. Foi através dele que o cantor prodígio chamou a atenção do produtor Scooter Braun, que acabou se tornando seu agente. E é aí que começa a segunda parte da história, com a mudança para Atlanta e todas as dificuldades que enfrentou até conhecer Usher e começar a sua escalada para o sucesso.

Falando dos termos técnicos, o filme não surpreende e se parece mais com estes documentários que assistimos na televisão todos os dias sobre a história de músicos e bandas. E a verdade é que o 3D é só uma estratégia de marketing, pois os óculos incomodam e só as imagens recentes do show no Madison Square Garden, em Nova York, foram captadas com a tecnologia.


A sensação que tive, ao sair do cinema, foi dúbia. Fiquei impressionada com o talento e o potencial de Justin, um menino de uma nova geração conectada 24h na internet, mas que de certa forma não se encaixa com esse modelo de construção de ídolo imposto por uma indústria fonográfica falida e que precisa se reinventar. Não adianta tratar os novos talentos da mesma forma que Michael Jackson e Beatles foram tratados há cinquenta anos atrás.

Para que Justin explore todo o seu potencial musical, ele precisa de tempo para criar, para descansar, para gritar, pular como qualquer adolescente, e não fazer 86 shows em apenas sua primeira turnê e ter que ficar calado em suas folgas para poupar a voz, que já dá sinais de fadiga. O ritmo intenso que a gravadora está impondo para este menino é um ato de irresponsabilidade, de interesseiros querendo lucrar com sua imagem, e que beira a exploração. E isto pode gerar danos vocais irreversíveis. Daí, o menino prodígio que poderia se tornar um Michael Jackson, pode acabar como um Macaulay Culkin, vivendo do sucesso de uma ou duas turnês e cheio de problemas psiquiátricos no futuro.



Matéria publicada por Silvia Dalben - Portal UAI